segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Revolta em São Sebastião da Boa Vista

Diário do Pará:
Populares tocam fogo em prédio da PM no Marajó

Era pra ser um final de semana de festa, na cidade marajoara de São Sebastião da Boa Vista. A cidade já vivia a movimentação do 26° Festival do Açaí com pessoas chegando das cidades próximas e, principalmente, de Belém, onde reside um grande número de pessoas. Mas um fato trágico mudou o cenário da festa.

Devido ao grande número de participantes do festival, a Policia Militar contava com um grupamento de reforço, deslocado de outras cidades, pelo comando do Batalhão localizado em Breves. Uma ocorrência policial, considerada comum, alterou totalmente o clima. Elielson de Matos Barbosa, 27, teria sido detido pela guarnição militar, por volta das 17h, do sábado (10), acusado de ter espancado sua companheira, porém, a detenção do rapaz, num fato ainda não esclarecido culminou com a sua morte de maneira estranha.

Segundo relatos de moradores, o rapaz já estaria dominado pelos policiais militares, quando uma discussão entre o acusado e um dos PMs provocou tensão. Elielson, em visível estado de embriaguez, teria passado a ameaçar o militar, tentando fugir, mesmo algemado.

TIRO

Um primeiro tiro teria sido dado pelo policial na tentativa de conter a fuga. Após este primeiro tiro, a ação do PM teve sequência com outro tiro deflagrado pelo militar, ainda não identificado, na cabeça do rapaz, que morreu.

Elielson ainda teria chegado com vida ao hospital municipal, porém não resistiu e faleceu logo em seguida. Parte de tecido cerebral do rapaz ficou exposto na rua em frente ao quartel da PM, onde moradores se aglomeraram.

PROTESTO

Aproximadamente 400 pessoas apedrejavam o prédio da PM, com militares ainda dentro. O número de pessoas aumentava e os ataques ficaram cada vez mais violentos contra o prédio. Vários disparos de arma de fogo foram ouvidos. Eram os militares abrindo caminho para saírem da cidade, com temor de serem linchados.

Os tiros dados pra cima assustaram os manifestantes que correram e abriram espaço para a fuga dos militares. Alguns teriam sido atingidos pelas pedradas e estavam com ferimentos leves pelo corpo. Eles se esconderam em vários pontos da cidade. Alguns chegaram a ficar dentro d´água por horas, aguardando a chegada do reforço que estava sendo providenciado pelo comando.

Enquanto isso, os manifestantes protestavam a morte do rapaz, conhecido na cidade como Tinga. A vítima tinha muitas amizades entre os trabalhadores do porto. O protesto ficou mais violento. Duas motos foram incendiadas em frente ao quartel da Polícia Militar e o prédio foi totalmente saqueado e destruído pelo fogo ateado pelos populares.

Um grupo de Bombeiros, presentes na cidade para a segurança do Festival, foi acionado para conter as chamas que ameaçavam se alastrar para as residências vizinhas.

NOVA REVOLTA

Os manifestantes, após terem saqueado o quartel da PM, foram em direção à Delegacia de Polícia Civil. Lá, voltaram a promover o apedrejamento e invadiram o local para libertar os presos. O saque foi realizado imediatamente. Computadores, ventiladores, armários, pertences pessoais dos policiais e vários outros equipamentos foram roubados ou destruídos. Uma moto do serviço judiciário foi incendiada em frente ao fórum da cidade.

Na praça, onde estava ocorrendo a programação do festival, os manifestantes chegaram dando ordem para parar o som, tentando subir no palco. Os equipamentos foram desligados sob ameaças. Ninguém queria reagir contra os manifestantes. As bandas que se preparavam para a apresentação da noite recolheram seus equipamentos e foram direto para o navio onde estavam hospedados, temendo o pior.

O Prefeito da cidade, Getúlio Brabo, permaneceu no prédio da Prefeitura do Município, aguardando a chegada do reforço policial. Todos temiam pelas suas próprias seguranças, devido ao clima de revolta. Muitos moradores criticavam a ação do policial e lamentavam a morte do rapaz. Mas poucos apoiaram a ação de quebra-quebra nos prédios e principalmente a libertação dos presos, alguns homicidas, traficantes e arrombadores. “É uma vergonha pra nossa cidade o que esses homens estão fazendo. Onde já se viu querer justiça soltando traficantes?” questionava um senhor na frente de sua casa enquanto a esposa chamava as crianças para dentro, com medo de mais confusão.

Somente por volta das 4h de domingo o reforço policial chegou a São Sebastião da Boa Vista. Pela manhã, os homens estavam ocupando pontos estratégicos da cidade e helicópteros foram deslocados para auxiliar no controle e na busca pelos líderes da manifestação. (Diário do Pará)

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