Jornal Correio do Brasil:
"O objetivo do estudo é agregar valor ao glicerol. Para tanto, foi proposta a utilização de um sistema de tratamento de efluentes que utiliza um Reator Anaeróbio de Manta de Lodo e Fluxo Ascendente (UASB, sigla em inglês).
O estudo Produção de biogás a partir de glicerol oriundo de biodiesel, de Michael Barbosa Viana, utilizou dados de uma pesquisa realizada na Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) que estuda a produção de energia a partir do glicerol.
Segundo Viana, estes estudos foram realizadosno Laboratório de Valorização de Resíduos e Biomassa da Embrapa Agroindústria Tropical, unidade da Embrapa localizada em Fortaleza (CE), sob a responsabilidade de Renato Carrhá Leitão. Na EESC, Viana teve a orientação da professora Sandra Tédde Santaella.
Viana conta que no interior do reator existem microrganismos anaeróbios que convertem a matéria orgânica, no caso o glicerol em metano e gás carbônico.
– Esse gás metano é um combustível que pode ser utilizado para geração de energia–, afirma Viana.
Microrganismos anaeróbios são aqueles que não necessitam de oxigênio para sua sobrevivência e utilizam outros processos de respiração, como por exemplo a fermentação.
Segundo o pesquisador, o reator teve eficiência acima de 90% na conversão de matéria orgânica do glicerol em metano, mesmo com o elevado teor de sais no interior do sistema devido ao glicerol proveniente do biodiesel ser rico em cloreto de sódio (mesma substância que o sal de cozinha).
– Altas concentrações de sais podem ser tóxicos aos microrganismos –, explica.
O reator construído em escala laboratorial tinha 14,85 litros de volume útil e produziu cerca de 62 litros de biogás por dia na etapa final de pesquisa. O biogás produzido pelo reator era composto por 60% de metano, 36% de gás carbônico e 4% de outros gases (nitrogênio, gás sulfídrico etc).
O gás utilizado efetivamente na produção de energia é o metano, cujo volume produzido foi, portanto, de cerca de 36 litros.
Viana sugere a construção de um reator de 3.145 metros cúbicos (m³), que atenderia as necessidades para a produção de 25 m³ de glicerol por dia. Um m³ é equivalente a mil litros.
– Estima-se que para cada metro cúbico de reator a ser construído, são necessários R$ 1.360,00. Desta forma, para a construção de um reator em escala industrial de 3.145 m³ seriam investidos cerca de R$ 4.277.319,00. Parece muito, mas se colocarmos a economia energética que uma usina de biodiesel teria com a implantação desse projeto, em poucos anos eles teriam o retorno do dinheiro investido –, afirma.
– O tempo de retorno do capital investido no uso dessa energia pode variar de 1 a 5 anos, em média, dependendo da tecnologia empregada e de outros fatores como valor da tarifa de energia, custos com mão de obra etc.
O reator em escala industrial proposto no trabalho seria capaz de produzir 16.000 m³ de biogás por dia.
– Isso corresponde a 6.246 quilowatts (kW). Para se ter uma ideia, se esse potencial for utilizado para produzir energia elétrica, é suficiente para abastecer cinco mil famílias, considerando um consumo médio de 0,6 kW por dia para cada família.
Ele ainda diz que o glicerol deve ser diluído em água antes de entrar no reator e dá dois motivos para isso.
– Para reduzir a concentração de sais dentro do sistema e para evitar que os microrganismos contidos no reator sejam prejudicados pela elevada quantidade de matéria orgânica que entra no sistema –, explica.
Viana ainda ressalta que se a concentração de matéria orgânica, no caso o glicerol, for muito alta, o sistema fica prejudicado devido ao acumulo de ácidos orgânicos formados durante o processo.
– Há um limite de concentração de matéria orgânica que um determinado número de células microbianas toleram. Acima desse limite o metabolismo destes microrganismos é afetado negativamente. [Ter muito glicerol no sistema] é como se você forçasse uma pessoa a comer 20 quilos de comida de uma só vez.
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