Adital :
"ndígenas lutam por terra e reconhecimento social e mostram experiência em Santa Maria
Karol Assunção *
Adital -
De etnia Tupinambá, Angerê deixou o Ceará, terra natal, aos 29 anos para acompanhar a mãe em busca de uma vida melhor. Na bagagem, levou o marido, os nove filhos e muitos sonhos. Atualmente com 58 anos, Angerê, ou Maria Cândida (nome de certidão), vive em Uberlândia, Minas Gerais, onde participa juntamente com outras 200 famílias do Movimento dos Indígenas Não Aldeados do Triângulo Mineiro (Mina).
'A gente vive na cidade, no bairro São Jorge, onde antes era periferia. Antes eu trabalhava como lavadeira, passadeira, depois em empresas. Hoje sou só dona de casa por causa da idade e dos problemas de saúde, mas faço esses sabonetes pra ajudar na renda', relata, mostrando os sabonetes artesanais que levou para comercializar na 18ª Feira Estadual de Cooperativismo (Feicoop) e na 7ª Feira de Economia Solidária do Mercosul, realizadas entre os dias 8 e 10 de julho em Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Angerê e outras centenas de famílias indígenas que vivem no triângulo mineiro fazem parte do Movimento dos Indígenas Não Aldeados (Mina). Em comum, a luta por respeito e reconhecimento de terra. 'Queremos nossa terra pra plantar, pra tirar nossa sustentabilidade, tirar o alimento e as plantas medicinais', demanda, afirmando que mora na cidade por necessidade e que tem medo dos 'netos caírem na marginalidade'.
Kaun Poty Guarany, cacique do Movimento, reclama da discriminação. De acordo com ela, os indígenas que vivem fora da aldeia não têm a quem recorrer. 'O município diz que indígena é [de responsabilidade] da Funai [Fundação Nacional do Índio] e a Funai diz que é de responsabilidade da cidade. Aí fica um jogando um pro outro', denuncia.
De acordo com a líder do Mina, os indígenas não aldeados não têm de onde tirar o sustento e ainda sofrem com a discriminação das autoridades políticas e da sociedade. 'Eles não reconhecem a dívida que tem com a gente. Queremos que devolvam pelo menos um pedaço de terra. Nós não temos sequer território demarcado', desabafa.
Entre as principais demandas estão a valorização dos povos indígenas e a construção de um Centro Cultural e de Formação. 'Queremos o reconhecimento junto à sociedade e o governo. Nós somos os primeiros cidadãos brasileiros e devemos ser mais valorizados, reconhecidos como legítimos filhos do Brasil', comenta a líder do movimento.
Angerê
A história de Angerê se confunde com a de muitos indígenas no Brasil. A luta pela terra está presente antes mesmo da indígena nascer. O pai dela, da tribo da Serra da Mãozinha (zona rural do município de Missão Velha, no sul do Ceará), nem bem chegou ao mundo e já foi expulso da terra em um confronto com 'brancos'. 'Perdi meu avô e minha avó [paternos]. Uma tia salvou meu pai ainda bebê', conta.
Sem terra e com a família incompleta, a indígena revela que seu pai foi 'trabalhar na terra dos outros'. Apesar de estar longe da aldeia, não deixou as tradições de lado: casou com uma indígena para quem estava prometido e constituiu família. 'Fomos criados na tradição, mas trabalhando na terra dos outros', comenta.
Seguiram assim até o final da década de 1960, quando o patriarca faleceu e a mãe decidiu 'sair em busca de recursos para viver uma vida melhor'. Pouco depois, foi junto com os filhos e o marido com quem vivia na época encontrar a mãe em Uberlândia (MG), onde mora até os dias atuais.
As matérias sobre Finanças Solidárias são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste (BNB).
* Jornalista da Adital
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