domingo, 18 de setembro de 2011

Energia de Tucuruí vai chegar ao Marajó

Diário do Pará:

A Celpa pretende iniciar, em março do ano que vem, a implantação de dois cabos subaquáticos que atravessarão o rio Pará, numa distância de 17 quilômetros, para interligar a sua subestação em Vila do Conde, em Barcarena, ao município de Ponta de Pedras, na ilha do Marajó. Os dois cabos, com carga de 34 mil volts, estarão separados um do outro por uma distância de 200 metros e vão permitir, já na segunda etapa, a complementação do projeto de eletrificação do Marajó com a utilização de energia firme gerada em Tucuruí.

Ao dar a informação, o presidente do Conselho de Administração do Grupo Rede Energia, Jorge de Queiroz Moraes Júnior, de passagem esta semana por Belém, revelou que a etapa inicial do projeto já está em fase de conclusão e deverá terminar em janeiro do ano que vem. Mobilizando investimentos da ordem de R$ 195 milhões, ela vai levar energia firme para cinco cidades marajoaras – Breves, Curralinho, Portel, Bagre e Melgaço. Juntas, elas representam aproximadamente 50% da carga da ilha do Marajó.

Em Portel, segundo Jorge Queiroz, já foi feita a eletrificação. Para Breves, estão prontas a linha de transmissão e a subestação local. A Celpa só depende de um trecho de dois quilômetros de linha em construção pela Eletronorte, ainda em Tucuruí, e a energização do sistema está programada para o próximo dia 23 de outubro. A linha que vai de Tucuruí até Portel e a que segue de lá para Breves são em 138 kV (138 mil volts). Já as linhas de Curralinho, Bagre e Melgaço têm cargas menores.

O presidente do Grupo Rede disse que o projeto original da segunda etapa, chamado internamente de Marajó 2, contemplava um arranjo diferente. O que se pretendia, disse ele, era a construção de uma linha a partir de Breves ligando em sequência os municípios de Anajás, Cachoeira do Arari, Ponta de Pedras, Salvaterra e Soure. “Nós íamos ficar com 1.092 km de linha de 138 mil volts. Uma linha radial, sem dupla fonte de alimentação, o que com certeza resultaria em má qualidade do serviço para o Marajó”, acrescentou.

A alternativa estudada pela diretoria do Grupo Rede, e em princípio aprovada pela direção da Eletrobrás, foi exatamente a construção dos cabos subaquáticos, arranjo que vai diminuir o tamanho da linha e reduzir os custos, inicialmente estimados em R$ 258 milhões. Outra vantagem comparativa será a maior confiabilidade do sistema, proporcionada pela dupla alimentação.

Em Ponta de Pedras, a Celpa receberá a energia transmitida por cabos aquáticos em 34 kV e elevará sua carga para 138 kV. De Ponta de Pedras, ela se estenderá, ainda em 138 kV, até os municípios de Cachoeira do Arari, Salvaterra e Soure. De Cachoeira do Arari, uma linha secundária, rebaixada para 34 kV, vai levar energia para Santa Cruz do Arari e Anajás.

Muaná, São Sebastião, Chaves e Afuá: fora dos planos

O novo arranjo de engenharia concebido para a eletrificação do Marajó com energia de Tucuruí poderá manter fora do sistema interligado – e portanto abastecidos ainda por termelétricas – quatro municípios marajoaras, todos eles com pequena demanda. Jorge Queiroz declarou haver hoje o entendimento de que é absolutamente inviável, tanto do ponto de vista econômico e ambiental quanto sob o aspecto da qualidade do serviço, construir linhas de transmissão para interligar os municípios de Muaná, São Sebastião da Boa Vista, Chaves e Afuá. Juntas, essas cidades representam menos de 10% da carga do Marajó.

Ele deixou claro que a idéia de excluir os quatro municípios do sistema interligado é apenas uma proposta, e não uma decisão final. Jorge Queiroz lembrou, a propósito, que houve o compromisso do presidente da República – Lula, na época – de eletrificar toda a ilha do Marajó com energia firme. Como o projeto sempre teve e continua tendo um viés político muito forte, ele não descarta por completo a hipótese de acabar prevalecendo o plano inicial, apesar de todas as inconveniências.

Segundo o executivo, uma linha de 34 kV, no meio da mata densa ou cortando extensas áreas pantanosas, estará sempre sujeita a frequentes interrupções. Assim sendo, mesmo que aquelas cidades venham a ser conectadas ao sistema interligado, a Celpa, por questão de prudência, será obrigada a manter lá os geradores termelétricos atualmente em uso. “O que nós estamos propondo é trazer as coisas para o domínio da racionalidade”, aduziu.

Ele reiterou que, para fazer as linhas de transmissão, será necessário fazer uma faixa de 80 metros no meio da mata e, em outros pontos, cortar extensos igapós. Essas obras terão impactos ambientais muito fortes, alto custo financeiro e manutenção difícil e onerosa, tudo isso sem a mínima garantia de qualidade para os serviços a serem oferecidos. Muito melhor, disse ele, será manter os geradores a diesel, que já atendem com folga a demanda atual e que até podem ser reforçados com equipamentos de reserva.

O presidente do Grupo Rede revelou que a Celpa prevê, para este ano, a queima de 131 mil metros cúbicos de diesel no Pará, na operação de geradores que alimentam pequenos e médios sistemas isolados. Desse total, 47 mil deverão ser consumidos no Marajó e 61 mil na calha norte do Amazonas. Quando for concluída a eletrificação do Marajó, em 2012, e a dos municípios da margem esquerda, em 2013, a operação dos motores a diesel no Pará passará a ser irrelevante. Ele imagina que os motores remanescentes não consumirão por ano mais de 20 mil metros cúbicos de diesel. Ainda assim, tenderão a desaparecer com a gradativa integração das áreas isoladas ao sistema interligado da Eletrobrás. (Diário do Pará)

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